terça-feira, 21 de agosto de 2007

O baba e o trio !

Voltei ao Passeio Público, no Domingo – 15 de dezembro passado, para reencontrar os amigos de infância e adolescência, das décadas de 60/70, todos moradores dos Aflitos, Largo do 2 Julho, Faísca e Tuiuti.
Enquanto dirigia-me para o evento, organizado por Almir e Duzinho, fui recordando, com imenso prazer, dos babas da Gabriel Soares, os mergulhos na praia do Unhão e os carros de rolimãs na ladeira, uma das nossas diversões no dia a dia, com exceção da quermesse da Igreja dos Aflitos que acontecia uma vez por ano com suas barracas e serviço de alto-falante comandado pelo amigo Miguel, que por causa de sua potente voz, foi apelidado de “Miguel Cachorro”. Isso porque algum gozador comparou sua potente voz ao latido do cachorro pastor alemão dos Fernandez, que moravam defronte a sua casa, outro mais gozador dizia que não sabia quem imitou quem ; Miguel ao cachorro ou o cachorro com seus latidos ao timbre de voz de Miguel!
As ruas; ladeiras; becos; praças; largos da região central onde morávamos não tinham fronteiras, nem tínhamos gangue, éramos uma turma de amigos sempre nos divertindo.

Os babas, além do campo preferido da rua Gabriel Soares, também aconteciam no Passeio Público, que além das suas deliciosas mangas caindo das mangueiras para alegria dos goleiros, que muitas vezes pegavam mais mangas do que bola, também proporcionavam uma sombra em todo o campo, permitindo que jogássemos várias partidas sem o calor habitual.
Nem as mangas que caíam e a visita ocasional da “banheira”, caminhonete com a capota de lona que conduzia os policiais (guarda-civil), eram motivos para não continuarmos o jogo depois da sua retirada.
Os guardas-civil portavam armas, mas nunca tiravam da cartucheira presa à cintura. Mas, com o cassetete de borracha faziam ameaças de levar consigo a nossa querida e companheira bola, porém os rostos de alguns demonstravam que o objetivo era apenas nos dar uma bela carreira! Tão logo sumiam, retornávamos a nossa peleja.

O time dos Aflitos era formado por Baleia, Deomar, Guga, Almir, Banha, Linhaça e Manteiga (irmãos oleosos), os três porquinhos (os irmãos Contreiras – Lulu, Joãozinho e Toninho) e Bandeira, que se gabava de chutar com os dois pés ao mesmo tempo sem cair e hoje ainda propala que o Bahia está nessa situação em virtude de Evaristo não lhe dar uma chance. Se Evaristo pode ser técnico aos setenta, porque ele não pode jogar! Nonato que se cuide.

No time da Gabriel Soares, Jader: o grande goleiro, fazia defesas surfando nos paralelepípedos quentes, feliz, mas todo ralado. Contar com Jader no time, era começar o jogo em vantagem. Quando não tínhamos Jader de goleiro íamos de Tristeza, com sua cara fechada metia medo ao adversário, e até ao seu próprio time:
Papai Noel, Cascavel, Pé de Valsa, Leonam, Pinga, Rui Palito, Pequinho, Antisardina e Bosco.

Outros dois times sentados no banco do jardim esperavam a sua vez de jogar com o vencedor, era outra leva de craques: Pinga, Zoinho, Antenor, Arturzinho, Zarara, Gaguinho, Deomar, Virgílio Lagartixa, Zé Carlos, Zé Muamba (foi quem primeiro usou calça Lee), os Atuns (dois irmãos gêmeos, que só podiam jogar no mesmo time ou em partidas diferentes tal a semelhança, que confundia até seus companheiros no passe de bola), China, Bebeto, os Guedes, Xandinho Batista, Davi Biúca, Bubu Gasolina, Lucas Todo Duro, Paulinho, Rafael Beleza, Matéria, Carioca, Beto, Carlos Dez, Dácio, Ruy Navarro, Dadinho, Nelson, Buck Jones, Ney Poli, Tadeu, Daniel, Pelada, Triângulo, Zulu, Chico, com seu cabelo louro farmácia, mas que jurava que era o sol nas pescas de petitinga, Oto Brucutu e o dono da bola.

Outros preferiam esportes diferentes. Pererê: o tênis de mesa, Oliveirinha: as cartas, Ari Reves: os halteres, Edmar e Fred:pesca submarina, Géo Beleza: seu barco, como dizia Lulu, o remo era a extensão do seu braço e os irmaãos Caveira, ficavam na arquibancada, o Colégio Militar talvez proibisse que jogassem baba!

Num desses dias, o baba estava correndo tranqüilo e solto, eis que chega a viatura policial, nossa velha conhecida, pois já estávamos quase íntimos dos policiais, já sabíamos até o número de alguns guardas: 26, 29, 34, 42, 51. A mesma nos ignorou, indo em direção ao banco, onde um casal, já antes de começar a partida, trocavam beijos e abraços, sem se importar com a nossa barulhenta presença. Os policiais saltaram da viatura, colocaram uma máquina de datilografia no assento do banco ao lado do casal e o escrivão ajoelhado registrava um flagrante “adultério”, com a presença do trio amoroso. Trio porque o marido veio na viatura. Foi o único dia que o baba parou e não mais continuou, em nome do amor.

Géo
Dezembro 2002

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